sábado, 13 de novembro de 2010

Projetando o futuro governo Dilma.


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Sinceramente, torço muito para que a Dilma faça um bom governo. Sou empresário, e sei que meus negócios - e os de todo mundo - dependem diretamente de uma economia saudável e bem aquecida.

Mas apesar de considerar que a nova presidente pegará o país em uma situação confortável (melhor que o Lula pegou e anos-luz melhor que o FHC pegou), acho que Dilma poderá ter dificuldades.

O centro da meta de inflação é de 4,5%. Em qualquer país que trabalhe com metas de inflação, este é o foco. E a ferramenta mais conhecida para se buscar este alvo é a taxa de juros. Em um cenário de alta inflacionária, o BC sobe os juros e esfria um pouco a economia, trazendo a inflação de volta ao controle.

Pois bem. Estamos vivendo exatamente este cenário agora. O centro da meta já ficou distante, e este ano a inflação irá superar os 5%. No acumulado de 12 meses, a inflação oficial já bate 5,2%. Parece pouco, mas o mercado não vê assim. Permitir que a inflação fuja do centro da meta dá a entender que o BC não é tão independente quanto deveria ser, e isso é péssimo.

E para piorar esse quadro, já corre a notícia de que a Dilma deverá substituir o ótimo Henrique Meirelles por um presidente de BC mais "desenvolvimentista". Em outras palavras, por alguém que force a queda mais rápida dos juros, como se isso fosse possível. Juros mais baixos sem contenção de gastos significam economia aquecida, mas com inflação em alta.

É preciso baixar os juros, e isso é consenso. No Brasil se paga uma das maiores taxas do mundo. Mas o caminho para esta queda deve ser o da contenção dos gastos públicos, e das reformas estruturais que o país tanto precisa. A futura presidente conta com ampla maioria no Congresso para isso, mas sinceramente não vejo mostras de que tenha esta intenção, infelizmente.

domingo, 7 de novembro de 2010

Aécio, e só ele, pode dar fim à "era PT".

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Observe o mapa abaixo...







É a evolução de votos presidenciais dados para o PT e para o PSDB em 2002, 2006 e 2010. Vamos então analisar algumas máximas, que considero bastante verdadeiras...



1. A candidata do PT em 2014 deve ser Dilma Rousseff.

Se Dilma fizer um bom governo, tudo leva a crer que será novamente a candidata do PT à presidência da República (caso a reeleição resista até lá). Seria algo pouquíssimo provável que o presidente Lula voltasse à disputa neste cenário. E na hipótese do governo Dilma não ser tão bom, a popularidade do Lula também seria fortemente afetada, já que ela é sua cria, e chegou onde chegou apenas e tão somente por sua indicação.



2. Não teremos, novamente, uma terceira força competitiva.

Cada vez mais, as eleições presidenciais por aqui se tornaram uma disputa polarizada entre PT e PSDB. Não há hoje um nome no PMDB ou no PSB que rivalize com o de Dilma, ou o de Lula. Não há um nome no DEM ou no PPS que rivalize com o de Aécio, ou o de Alckmin. O PSB, assim como os outros partidos mencionados, anuncia a vontade de lançar candidato próprio. Isso de certa maneira transmite uma mensagem ao eleitorado de que o partido está musculoso, fortalecido. Mas com a aproximação do pleito, a tendência é de que as forças se reúnam em torno daquele candidato com mais condições de vencer, e eles estão no PT e no PSDB.

Sozinho, o PV não é capaz de se tornar competitivo. O partido tem baixíssima capilaridade nacional e pouquíssimo tempo de TV. Marina Silva protagonizou uma belíssima onda verde na última eleição, mas é muito difícil que ela se repita. Boa parte de seus votos - talvez a metade deles - não foram votos marinistas ou votos ecológicos. Foram de eleitores que não gostaram da escolha (ou da imposição) do nome de Dilma Rousseff, e que detestam o candidato Serra. Não tendo para onde correrem, esses eleitores descarregaram seus votos na candidata mais neutra, Marina Silva.



3. Brasil dividido ao meio.

Vê-se claramente que o mapa do Brasil está dividido ao meio. Essa divisão, a grosso modo, é até patrocinada pelo PT e pelo presidente Lula. A parte vermelha do mapa, pouco instruída e amplamente atendida por programas assistencialistas, vota no PT (norte de Minas Gerais para cima), enquanto uma outra parte, a de baixo, com habitantes com mais anos de estudo e renda mais alta, vota no PSDB. Salvo exceções, esse quadro irá permanecer para 2014. E o candidato tucano, seja ele qual for, terá os votos da parte azul.






Projetando 2014

Agora imagine este mesmo mapa, mas com Minas Gerais e Rio de Janeiro pintados de azul. Juntos, estes estados possuem 23 milhões de eleitores, e desde 2002 dão vitória ao candidato petista nas eleições presidenciais. Fatalmente o candidato tucano sairia vitorioso se conseguisse ganhar nestes dois estados. E não é nada difícil imaginar que apenas um político poderia alcançar o feito: Aécio Neves. Ele teria 70% - ou mais - em Minas Gerais.

E no Rio de Janeiro, Aécio poderia obter um ótimo resultado - muito melhor do que os tucanos vêm conseguindo obter por lá, já que ele é muito próximo de toda a casta artística da capital, que dita os costumes e os comportamentos em todo o estado. Aécio é amigo pessoal de vários "globais", apresentadores de TV, bandas de música, atrizes e atores, e etc. Fala do Rio, e para o Rio, com muito mais naturalidade que Serra ou Alckmin o fazem. Por muito menos, na despedida do Aécio do governo de Minas, vários artistas gravaram depoimentos de apoio, como Maitê Proença, Alceu Valença, Ziraldo, Fagner, Renato Teixeira, Milton Nascimento, Samuel Rosa, Christiane Torloni (ver vídeos abaixo)…




Renato Teixeira e Samuel Rosa (Skank)
http://www.youtube.com/watch?v=4uUsO1istCk&feature=related

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Raimundo Fagner e Lô Borges
http://www.youtube.com/watch?v=sJ6b7_1v7vM&feature=related

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Fernanda Takai e Alceu Valença
http://www.youtube.com/watch?v=jJEnvKCnbR8&feature=related

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Maitê Proença e Ziraldo
http://www.youtube.com/watch?v=Qwsg24Ywn6w&feature=related

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Rogério Flausino e Christiane Torloni
http://www.youtube.com/watch?v=q7ZAC3OEm88&feature=related

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Quantos não gravariam por ele se Aécio Neves fosse candidato a presidente? A onda seria irreversível. Algo semelhante à Obamamania vista em 2008 nos Estados Unidos.

Por sua ideologia, Aécio é aquele que mais tira votos dos admiradores do presidente Lula, e dos petistas insatisfeitos. Tem um "leque político" maior que o leque dos concorrentes, por assim dizer. Eleitores mais conservadores votam nele (talvez por falta de opção), mas também esquerdistas tradicionais o fazem. É também, entre os nomes do PSDB, aquele que tem sua imagem menos ligada à injusta pecha, colada nos tucanos por petistas, de “governar para os ricos”. Se considerarmos que os votos dos psdbistas estarão com qualquer tucano escolhido, cabe ao partido tentar conquistar uma parte dos votos do eleitorado adversário...

Não bastasse isso, Aécio é jovem, bem apessoado, fala muitíssimo bem e tem uma trajetória política admirada. É neto de Tancredo Neves, político querido em todo o território nacional, que acabou por se transformar em mito após morrer sem assumir a presidência da república, em 1985.

Dentro do PSDB, partido que ajudou a fundar, Aécio é ligado a vários governadores recém-eleitos, como Alckmin, Beto Richa e Marconi Perillo, o que pode lhe dar amplo apoio político interno. Encontra bom trânsito em partidos hoje governistas - casos explícitos do PMDB e do PSB - o que certamente ampliaria sua base partidária de apoio (desfalcando a base partidária petista).

Sem passionalismos. O candidato tucano em 2014 deve ser Aécio Neves. Em 2010 provou-se mais uma vez que um candidato se faz conhecido durante a campanha, com a forte exposição a que é submetido, e não antes dela. Note-se que ninguém conhecia a candidata Dilma Rousseff no Amazonas, e ela terminou o segundo turno com 81% dos votos válidos no estado.

O ano de 2014 marcará o fim da "era PT” na presidência da República, ao menos por uns bons anos. Isso, claro, se o PSDB não trocar, mais um vez, os pés pelas mãos.

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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Palocci, o moderado.


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Dilma venceu. Teve 56% dos votos válidos no segundo turno e venceu. A democracia brasileira deu mais uma vez prova inequívoca de que é vigorosa. Afora os abusos cometidos por ambos os lados, principalmente pelo próprio presidente Lula, chegamos ao fim de mais uma jornada eleitoral.

Mas com quem Dilma irá governar? Que turma estará ao seu lado? Quem terá trânsito livre em sua sala presidencial?

O nome mais cotado é o de Antônio Palocci. Foi ele que entrou no carro que levaria Dilma para a festa da vitória. Só ele entrou. Palocci ficou ao lado de Dilma durante toda a festa, e o discurso lido por Dilma foi escrito a quatro mãos: as maõs dele e as dela (aposto meus vintens como ela só escreveu o "boa noite").

Palocci será o nome forte do governo Dilma, e isso nem de longe é uma notícia ruim. Poderia ser muito pior. O ex-ministro do Lula cometeu a besteira de se envolver na quebra do sigilo do caseiro Francenildo, e acabou caindo por isso. Se não tivesse caído, seria o candidato do Lula, e com enormes chances de vencer no primeiro turno. Afinal, Antonio Palocci é muito, muito, muito melhor que a Dilma. E se o braço direito dela não fosse o Palcci, poderia ser o Zé Dirceu. Este sim, um horror completo. O crime do Palocci contra o Francenildo vira roubo de pirulito perto dos crimes do Zé Dirceu, chefe da quadrilha do mensalão.

Palocci e Dirceu são de turmas diferentes. O primeiro é da ala moderada, com viés técnico, mais que político. O segundo é da ala totalmente radical, e com forte viés político. Aparentemente, pelo que se viu na campanha, Dilma estaria muito mais próxima de Dirceu que de Palocci. Dilma, como o próprio Dirceu disse, é sua "companheiro de armas". O petista xiita concedeu entrevistas durante a campanha, mandando e desmandando em um eventual governo Dilma. Uma em particular, na rádio CBN, chega a assustar, tamanha a desenvoltura com que ele narra o futuro. "Dilma não é Lula, e quem vai decidir os cargos é o PT", disse Dirceu em outras palavras.

Ao que parece, Lula ainda nem passou a faixa presidencial, mas já está mexendo seus pauzinhos. Após a derrota tucana, e vendo o risco de um governo radical por parte de Dilma Rousseff, temos ao menos uma boa notícia.

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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Por que a comparação pura e simples não faz sentido...


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Antes de mais nada, gostaria de dizer que realmente acredito que o presidente Lula fez um bom governo. Um governo com falhas, como todos têm, mas com muitos pontos positivos. Nas pesquisas de avaliação do presidente, estou entre os que lhe dão nota boa, pra desespero de alguns amigos tucanos. Acho legítimo que, por esta razão, as pessoas realmente considerem a possibilidade de votar na continuidade desse governo. Dilma é favorita absoluta, e só não ganhou no primeiro turno porque não é uma candidata forte como foi o Lula nas eleições anteriores.

De fato, aí está o maior problema dessa escolha. Torço, do fundo do meu coração, para que a Dilma, se eleita, faça um grande governo. Mas nem de longe ela tem as características principais que trouxeram o presidente Lula até aqui, e que o transformaram em um mito político. Carisma e liderança. Ambas são fundamentais, e se misturam. O carisma do presidente Lula fez com que sua popularidade se mantivesse sempre mais alta do que seria o esperado, e esse apoio da sociedade fortalece as bases de apoio político, tão necessárias para se governar. E a outra característica instintiva em Lula é a liderança. Lula consegue manter certo controle sobre as forças políticas no congresso (partidos, líderes), e isso lhe é fundamental. Tenho muitas dúvidas se Dilma conseguiria o mesmo feito caso seja mesmo eleita.

O Joelmir Beting, recentemente, comparou de maneira pura e simples números de 2002 e de 2010. Disse que em 2002, fim do governo FHC, o Brasil estava "no fundo do poço", e que hoje está "no melhor dos mundos". Disse ainda que a inflação era de 12,5% e agora de 5,1%, o dólar caíra de 3,94 para 1,70, PIB de 2,7% para acima de 7%, desemprego de 12,7% para 6,2%, e finalmente que o risco país caíra de 2400 pontos para 174 pontos.

Um professor de estatística que tive na faculdade dizia que os números não mentem, mas podem ser contados ao "gosto do freguês". É justamente este o caso. Joelmir é petista, e não vejo nenhum problema nisso. Há inúmeros âncoras e analistas tucanos por aí. O problema está na parcialidade da notícia. Um assassinato do bom jornalismo. Uma desonestidade intelectual, levando-se em consideração que ele, Joelmir, sabe o que fala. Vamos pontuar a sua fala...

1. "Fundo do poço" para o "melhor dos mundos" - São expressões abstratas, mas o Brasil não estava no fundo do poço ao fim de 2002. Estava muito, muito melhor do que 10 anos antes, com inflação controlada, juros mais baixos, moeda forte e estabilidade econômica (ver gráfico da evolção do IDH nas últimas décadas). Falar dessas conquistas hoje em dia pode soar estranho, antigo, como se isso fosse o óbvio. Não era. O óbvio era a troca constante de moeda, a inflação galopante, a instabilidade econômica e política. Isso sim, era o fundo do poço.

Do outro lado, não estamos no melhor dos mundos. Neste lugar, se é que ele existe, não há filas nos postos de saúde nem professores ganhando tão pouco. Não há achaques à democracia ou à liberdade de imprensa. Não há "guerra" entre ricos e pobres, entre sulistas e nordestinos, promovida pelo governo. No melhor dos mundos, a política externa do nosso país não apoia abertamente ditadores, enquanto todo o resto do mundo diz que o correto é o contrário.

2. Inflação de 12,5% para 5,1% - Ora... Antes de ser 12,5% ao ano como era em 2002, a inflação era de 40%, 50% ao mês. Chegou a ser de 80%, e isso em um único mês. Foram inúmeras as tentativas de derrotar a inflação, a grande vilã de todo trabalhador (principalmente dos mais pobres). Teorias heterodoxas foram aplicadas, e sempre com sucesso frágil e passageiro. A cada tentativa frustrada de estabilização dos preços era fortalecida na mente dos brasileiros a impressão de que a inflação era invencível, e isso aumentava a dificuldade para os momentos seguintes.

Evidentemente, o governo Lula agiu bem nesse ponto, entre outros. Manteve o controle da inflação por metas, e o BC goza de certa independência para agir quando é preciso. A tendência era de que a inflação, já domada em um primeiro momento, ficasse ainda menor com o tempo, o que acabou se confirmando.

É importante destacar que ultimamente a inflação está incomodando, e bastante. Há alguns anos, o centro da meta era 4%. O governo alterou este alvo para 4,5%, numa manobra muito mal vista pelo mercado. Ainda assim as taxas andam perigosamente acima dos 5%. Especialistas afirmam que o dragão pode até adormecer, mas nunca morre. É bom não relaxar neste controle.

3. Dólar de 3,94 para 1,70 - Aqui a desonestidade intelectual vai aos céus. Para se controlar a inflação lá em 1994, era preciso "congelar" o câmbio, um choque necessário. Isso foi feito, e o um dólar passou a valer um real. Com a confiança na nova moeda aumentando, a migração para o sistema de câmbio flutuante se tornava cada vez mais importante. Com um certo atraso, na minha opinião, esta mudança foi feita, e o Brasil entrou definitivamente nas bases da economia moderna com o câmbio livre. Atuações do BC passaram a ser esporádicas, apenas com o intuito de amortecer grandes saltos especulativos, e a mesma regra tem sido adotada até hoje.

Especificamente em 2002, o câmbio sofreu uma fortíssima especulação, que levou o real ao seu valor mais alto em toda a história, para quase 4 reais. A razão desse movimento especulativo responde por um nome. Lula. O mercado tinha fortes dúvidas quanto ao rumo que seria adotado pelo candidato petista, que estava prestes a se sagrar vitorioso nas urnas. Faria ele o que sempre pregou? Manteria os pilares da boa governança - metas de inflação, superávites primários e câmbio flutuante - de pé?

Felizmente Lula não mexeu nesses pilares macroeconômicos, e o Brasil passou a ser considerado um país mais confiável aos olhos dos investidores do mundo todo. Um país que não teria grandes solavancos econômicos independentemente do partido que o governasse. Essa, para mim, foi a grande revolução da década passada, comparável apenas à estabilização da economia nos anos 90.

4. PIB de 2,7% para "acima de 7%" - mais uma enorme desonestidade intelectual do Joelmir e daqueles que, tendo algum grau de consciência econômica, usufruem deste argumento. Mesmo considerando que FHC e Lula governanram em momentos absolutamente distintos, e que o primeiro enfrentou turbulências econômicas mundiais muito mais frequentemente, a média de crescimento das duas eras é muito semelhante. E essa média deve sempre ser comparada com o crescimento mundial do período, para que fique estatisticamente justa. Falar que o Brasil cresce "mais de 7%" hoje não é justo. Esse crescimento só se dá em razão do crescimento negativo do último ano. Sempre após as crises, o momento seguinte é de crescimento vertiginoso. A Argentina, país que enfrenta dificuldades muito maiores que as que enfrentamos hoje, deve crescer mais de 10% neste ano, e isso não se deve à boa governança da sua presidente, Cristina Kirchner. Muito pelo contrário.

5. Desemprego de 12% para 6% - A economia se fortaleceu nos últimos anos, e isso fatalmente melhora o índice de emprego. Mas há fortes evidências de que a maior parte dos novos empregados apenas formalizou o emprego que já tinha, assinando carteira. De toda maneira, isso não é demérito nenhum do presidente Lula. Ao contrário, o presidente agiu de maneira acertada em termos econômicos durante todo o seu governo, inclusive durante a recente crise financeira mundial. Tá aí o ponto mais positivo do governo Lula, e o ponto que mais embaralha a oposição nos debates que estão sendo promovidos entre Serra e Dilma. A economia vai muito bem, obrigado.

6. Risco Brasil de 2400 para 174 pontos - Bem... primeiramente esse risco só bateu nos 2400 pelo fator já explicado anteriormente, chamado pelo mercado de "Risco Lula". Como o novo presidente manteve os pilares macroeconômicos do governo anterior, o risco Brasil logo se desinflou. E o que fez este medidor cair ainda mais foi justamente a confiança adquirida pelos investidores mundiais de que a partir daquele momento o Brasil seria bem governado (ao menos em termos macroeconômicos) independementemente do partido que vença as eleições seguintes. Como eu disse anteriormente, esse é o maior mérito do Lula, dentre muitos. Ele mostrou que, vestido de azul ou de vermelho, as normas da boa governança seriam seguidas a partir dali. Isso, para o investidor, é o mais importante. E por isso o risco Brasil caiu tanto.

O jornalista Joelmir Beting ainda se esqueceu de falar do famigerado "pagamento da dívida externa", outro embuste. No início do governo FHC, o Brasil não tinha poupança em moeda forte, a chamada reserva internacional. O país era devedor externo, mas não tinha poupança interna nenhuma. Com o passar dos anos, passamos a acumular reservas internacionais em dólar. Dez bilhões, trinta bilhões, cinquenta bilhões de dólares... As reservas subiam em um ritmo mais acelerado que o da dívida externa, e fatalmente as duas curvas se encontrariam em um momento futuro, o que de fato aconteceu no governo Lula. O Brasil não pagou a sua dívida externa. Apenas passou a ser considerado credor internacional, ou seja, passou a dever menos do que tem em reserva. Por isso se consdera que o país não tem mais a dívida externa.

Isso tudo sem contar, á claro, com o fato de que, dada a boa governança, sempre se espera que os números melhorem com o tempo. Bons governos são assim mesmo. As exportações crescem, as mortalidades caem, a segurança aumenta... Seria uma grande decepção, depois de 8 anos, que o Lula nos apresentasse números iguais aos do início do seu mandato. E é bastante provável que os números continuem a melhorar, independente do partido que ganhar a eleição.

A análise acima é honesta, isenta de cores partidárias, até porque não sou nem nunca fui filiado a partido nenhum. Já votei no Lula, no Pimentel em Minas e em outros partidos adversários do PSDB. Voto hoje no Serra apenas porque tenho enormes dúvidas sobre a capacidade da Dilma de manter nos trilhos um país tão rico e complexo como o nosso. Acho que falta a ela principalmente liderança política, já que em termos de carisma os dois candidatos se equivalem, negativamente. Acredito que a Dilma terá imensa dificuldade de não virar presa da turma do Zé Dirceu e do PMDB - e isso não aconteceria com o Serra presidente.

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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

E o milagre aconteceu...


Há menos de dois meses, escrevi aqui mesmo nesse blog que o PSDB esperava por um milagre para reverter a ampla vantagem que Dilma tinha nas pesquisas. Naquele instante, o partido não tinha um discurso coerente. Ora elogiava o governo Lula, ora o atacava. Aliados (inclusive do próprio partido) evitavam se vincular ao candidato tucano José Serra, temendo prejuízos eleitorais nas disputas estaduais. Mas política é realmente imprevisível, e o milagre surgiu. Com uma força inesperada até mesmo por ela, Marina Silva protagonizou uma onda verde que acabou por levar a disputa para o segundo turno. Um pouco mais de tempo e talvez iria ela, Marina, ao segundo turno contra Dilma Rousseff. E com ótimas possibilidades de vitória, já que herdaria 99,5% dos votos dos eleitores de Serra.

Mas Marina não teve tempo pra isso. Sua coligação de um só partido lhe deu pouquíssima capilaridade eleitoral, característica vital em um país continetal como o nosso. E seu tempo na propaganda eleitoral era apenas um pouco maior que aquele suficiente para dizer "Meu nome é Enéas". Com 20 milhões de votos, entretanto, ela pode ser considerada a grande vitoriosa da eleição presidencial no primeiro turno, e peça-chave no segundo. Analistas previam que ela teria algo próximo da metade disso...

Mas o que gerou essa onda verde? Se o voto ecológico não representa nem 10% do eleitorado, o que levou a Marina a ter quase 20%? A resposta está no que chamamos de "agenda negativa". Um candidato perde votos na medida em que se vê obrigado a dar mais explicações do que a expor seu programa de governo. E foi justamente isso que ocorreu com Dilma Rousseff. Ironicamente, o gatilho para esse processo foi disparado pelo presidente Lula, padrinho político de Dilma, um político que já viveu meia dúzia de eleições presidenciais, e que por esta razão traz consigo uma vasta experiência eleitoral. Do alto de sua popularidade arrebatadora, Lula achou que podia mais do que realmente pode. Na mesma semana, atacou o "excesso de liberdade" da imprensa e disse que gostaria de "extirpar a oposição". Chavez pensa da mesma maneira. Ahmadinejad também. Impossível que não houvesse a associação dos dois rompantes do presidente Lula (e de sua candidata, que como sempre faz coro ao que ele fala) com um viés ditadorial, repressor.

Já na semana seguinte, Dilma foi questionada uma centena de vezes sobre os dois temas. Tentou explicar que apesar dos pesares, imprensa boa é imprensa livre. E também sem muito sucesso disse que a fala do presidente sobre extirpar a oposição era de cunho eleitoral, e que o PT gostaria de extirpar os opositores nas urnas. Soma-se a isso as intensas acusações contra a ministra Erencie Guerra, braço direito de Dilma, envolvida em flagrantes casos de corrupção na Casa Civil e pronto. O estrago estava feito. A agenda negativa estava instalada.

Uma parcela dos eleitores de Dilma - nitidamente a parte mais instruída, com mais renda, os chamados formadores de opinião - , incomodado com essa agenda negativa da candidata petista, resolveu olhar para os outros candidatos. De um lado, viram Serra, um candidato pouco atraente aos olhos deste eleitorado específico. Mas de outro viram Marina Silva, uma ex-petista que trabalhou com Lula, e que tem uma forte imagem ligada à lisura no trato com a coisa pública. "É nela que eu vou", pensaram muitos. Em um primeiro momento, quase 5 milhões de eleitores. Quase 5 milhões de ex-dilmistas. Marina deu seu primeiro salto, batendo nos 15%, e Dilma viu sua vantagem encolher, caindo de 57% dos votos válidos para 51%. O segundo turno já era uma ameaça latente.

Mas um segundo golpe ainda estava por vir. Dilma, que sempre teve postura afirmativa sobre os variados temas tratados por um candidato político, vociferou em sabatina à Folha que era "um absurdo não haver, ainda, a descriminalização do aborto no Brasil". Uma posição legítima, e até certo ponto louvável. Afinal, o Brasil é um país laico, e políticas de saúde pública não devem sofrer a influência de religiões ou crenças. Mas o tema foi levantado posteriormente, e Dilma se embaralhou toda. Afirmou que era contra o aborto. Que era a favor da vida. Mas não encontrou explicação razoável para a forte frase dita na sabatina da Folha. Enfrentou um importante revés de grupos religiosos. Arcebispos, padres, pastores e líderes passaram a pregar voto contra a candidata do PT, chamada de abortista. Os marqueteiros de Dilma tentaram voltar atrás. Incluiram em seu programa eleitoral o tema, mostrando lindos bebês, mulheres grávidas e etc. A campanha da petista tentou reunir novamente líderes religiosos para, juntos, condenarem a prática do aborto. Até conseguiu o apoio e a adesão de alguns, mas era tarde. Outros 5 milhões de eleitores voltaram seus olhos para as opções, e Marina experimentou novo salto no dia 3 de outubro, dia da votação em primeiro turno.

Diferentemente do que previam as pesquisas, até mesmo as de boca de urna, Dilma não teve os 51% esperados. Nem 50%, nem 49%. As urnas se fecharam e deram a Dilma 46,9% dos votos. Serra ficou próximo do que tinha nas pesquisas, cerca de 33% dos votos. E Marina se aproximou dos 20%. O segundo turno presidencial, antes pouco provável, era fato consumado. E o PT ainda lamentava a vitória em primeiro turno de Geraldo Alckmin em São Paulo, por apenas 0,5 ponto percentual, deixando o petista Mercadante fora da disputa. A oposição estava em festa. O governo não...

Hoje, nada indica que a sangria de Dilma Rousseff tenha terminado. Pelo contrário, a postura agressiva no primeiro debate do segundo turno certamente lhe tirou votos, tanto que a campanha petista não quer que Dilma participe de todos os debates previstos. Há consenso entre estudiosos do tema que o candidato que ataca de maneira muito agressiva tende a perder votos. O eleitorado reprova esse tipo de atitude. E Dilma, pouco articulada e nervosa, amplificou o problema. Serra, ao contrário, se mostrou tranquilo, e ainda adotou um discurso mais coerente que o que usou no primeiro turno. Defendeu as conquistas do governo FHC - o plano real, as privatizações, a estabilização da economia, e partiu para as comparações de biografias.

Neste instante, algumas pesquisas já indicavam que o grande eleitorado conquistado por Marina Silva no primeiro turno tendia para o lado de Serra, e não para o de Dilma. No DF, onde Marina ficou em primeiro lugar, Serra herdou vinte e quatro pontos percentuais quando a candidata verde saiu da disputa. Dilma herdou apenas sete. A constatação deste movimento veio através do Datafolha, dias depois. A vantagem de Dilma, que chegou a ser de 20 pontos percentuais em um confronto de segundo turno contra Serra, caíra para oito pontos apenas.

O PT tenta, agora, levantar uma "Erenice" do lado do Serra. A tentativa é válida, e se colar pode frear o crescimento do tucano. Falam de um cidadão chamado Paulo Preto, que teria desviado 4 milhões de reais da campanha tucana. Sinceramente, o caso não me parece ter intensidade para causar estragos nas hostes tucanas, mas aos petistas não custa tentar. A seguir como está, Serra já se aproximaria bastante de Dilma na próxima pesquisa, e fatalmente ultrapassaria a petista até o dia 31 de outubro, data da votação em segundo turno. O posicionamento de Marina Silva frente ao segundo turno poderia mudar sacudir a poeira, mas se espera que o PV apoie Serra, e que a candidata verde permaneça neutra na disputa.

Os petistas, hoje, tentam entender como uma eleição ganha se transformou numa disputa equilibrada, com boas possibilidades de derrota. Os que realmente quiserem esta resposta devem olhar para o presidente Lula. Mais precisamente para o seu umbigo. Foi ele, com o rei na barriga, que disparou o gatilho da agenda negativa que até hoje atola a sua candidata.

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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Leia o que esta mulher tem a dizer, sem preconceitos...

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Em 2004, Soninha Francine, mais conhecida como Soninha, apresentadora de TV, jornalista e política, disputou e venceu a eleição para vereador da cidade de São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores (PT), com um total de 50.989 votos, exercendo o seu mandato até 2008. Na Câmara Municipal de São Paulo, direcionou seu trabalho para a defesa dos direitos humanos dos GLBTs (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Travestis) e Jovens, além do fomento ao esporte e à cultura e da acessibilidade para deficientes físicos.

Bem no começo do seu mandato como vereadora, Soninha pediu ao então prefeito de São Paulo José Serra que a recebesse em uma audiência, pois tinha muitas críticas e sugestões a fazer para a cidade. A seguir, trechos escritos pela própria Soninha sobre José Serra, após esse encontro.




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Para ler o depoimento completo, clique em: http://soninhafrancine.ning.com/profiles/blogs/questionada-sobre-seu-apoio-a?xg_source=activity


Agora escrevo eu...



Sem extremismos, o Brasil está no rumo certo há quase duas décadas. A estabilidade econômica e o controle da inflação deram a largada, e as conquistas sociais dos vários anos seguintes fortaleceram ainda mais a nossa economia. São vitórias da sociedade brasileira, e que não se perdem mais. Agora estamos novamente prontos para escolher o novo presidente, e José Serra é o mais capacitado dos candidatos para dar seqüência a este longo processo. O Brasil vive um bom momento, mas ainda precisa melhorar muito em áreas importantíssimas. Saúde, por exemplo, é uma delas, e ninguém melhor que José Serra, o melhor ministro da saúde de todos os tempos, o pai dos remédios genéricos, para dar um grande salto de qualidade nesta área, e também em outras.


Eu sou Holger Madsen, não sou filiado a nenhum partido político e nem ganho um centavo com isso. Sou mineiro e já votei no Lula, no Pimentel e em vários outros petistas. Mas realmente acredito nas palavras da Soninha, e vou votar no José Serra para presidente, no dia 03 de outubro.



Aposte no Brasil. Vote em José Serra, número 45, para presidente.















quinta-feira, 26 de agosto de 2010

À espera de um milagre...





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Faltam ainda 40 dias para a eleição presidencial em primeiro turno. O horário eleitoral mal começou. Os candidatos tucanos a governador estão se saindo melhor que os petistas. Serra é um candidato experiente, bom administrador, com um passado irretocável e um presente de conquistas no estado de São Paulo. É visto como o melhor ministro da saúde que o país já teve em sua história recente - e a saúde é justamente o tema mais relevante na vida dos eleitores, segundo as pesquisas. Estes seriam ótimos motivos para que José Serra marchasse animado.

Mas ao contrário, o PSDB não se acerta a nível nacional. Qual o discurso do candidato José Serra? Que mensagem o seu partido tenta passar ao eleitor, se Serra ora ataca o Lula, ora aparece ao seu lado na sua própria propaganda eleitoral (veja imagens)? O fato é que o PSDB nacional ainda não se achou, e esse vai-e-vem amplifica a falta de um posicionamento claro.

Serra deveria - e ele tem tentado - se apresentar como aquele mais capaz de dar prosseguimento ao bom momento que a economia brasileira vive. Deveria - e ele tem tentado - elogiar o Lula e o seu governo. Críticas pontuais podem, obviamente, ser feitas, mas pesquisas indicam que o eleitorado indeciso dá nota 8 para o atual governo, e sendo assim, atacar frontalmente o presidente Lula seria suicídio político.

A razão do insucesso momentâneo do PSDB no âmbito nacional definitivamente não é fácil de se explicar, mas vou tentar enumerar alguns pontos...


1. Fica claro, mais uma vez, que um candidato pode sair de um percentual baixo e conquistar terreno ao longo da campanha. Isso está ocorrendo com a Dilma, afinal. Não que se deva rasgar pesquisas eleitorais no momento de se decidir quem será o candidato, mas nem de longe essa deve ser a razão principal da escolha. Erro estratégico do PSDB.

2. O PSDB optou - acertadamente, ao meu ver - por elogiar o governo federal. Não o faz de maneira clara e evidente, mas foi essa a opção. Mas o partido escolheu para isso um candidato que tem uma imagem absolutamente de oposição ao presidente Lula. Serra já o enfrentou nas urnas, e é muito ligado ao ex-presidente FHC. É, em síntese, um anti-Lula nato. Elogiar, nessa situação, é complicado. Erro estratégico do PSDB.

3. Aliados, tucanos ou não, temendo o vínculo de seus nomes com o de Serra, optaram por não entrar de cabeça na campanha nacional, ao menos no início. Isso vale para o Aécio, para o Beto Richa, para o Perillo e até para o Alckmin. Vale também para o Tasso, o Agripino, o Demóstenes, Garibaldi e para muitos outros. Exceção honrosa para Roberto Freire, mas este é candidato a deputado federal e não teria muitos motivos para temer o tal vínculo. De toda maneira estaria eleito.

4. De alguma forma, o PSDB está muito concentrado em São Paulo. Não o partido como um todo, mas as decisões. Claro que o partido é muito forte no estado, mas o reflexo desse poderio está desproporcional. Desde a redemocratização, temos apenas candidatos tucanos "paulistas" para presidente. Covas em 1989, FHC, duas vezes nos pleitos seguintes, Serra em 2002, Alckmin em 2006 e Serra, novamente, em 2010. Esse fato apenas contribui para que lideranças de outras regiões se sintam desestimuladas.


A eleição não acabou. Ainda temos muita campanha pela frente, e tudo pode acontecer. E mesmo que os brasileiros elejam Dilma Rousseff, o Brasil não vai acabar. Nós, cidadãos brasileiros, temos muito mais impacto nas nossas próprias vidas que os presidentes que elegemos. Mas o PSDB e sua militância passam a trabalhar, agora, à espera de um milagre.

sábado, 24 de julho de 2010

Anastasia e Dilma. Casos parecidos, mas muito diferentes...




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Muitos comparam a situação do tucano Antonio Anastasia em Minas com a situação da petista Dilma Rousseff no plano nacional. Dois desconhecidos do grande público que são lançados em importantes eleições majoritárias por seus populares padrinhos políticos.

Tudo bem, até aqui os casos se assemelham... Mas as semelhanças logo se encerram. Dilma nunca foi o braço-direito do Lula, ao menos até se tornar a candidata do PT. Era, até então, uma soldada do presidente - mais uma, entre tantos. Porém, um braço-direito caiu pelo mensalão, um outro caiu por quebrar o sigilo de um caseiro, e assim as coisas foram acontecendo até culminar com um presidente sem braços e uma soldada disposta a tudo. Dilma foi escolhida candidata a presidente, a princípio, contra a vontade do próprio PT. Mas como Lula é maior que o partido pelo qual milita...

Além disso, o principal programa do governo Lula, o bolsa-família, não é comandado pela Dilma, mas por um outro soldado, o ministro Patrus Ananias. Mais... em 1998, Dilma, então no PDT, brigava com petistas no Rio Grande do Sul.

Ao contrário de Dilma, Anastasia prestava, naquele ano, seus serviços técnicos ao então presidente FHC, chegando a ser ministro interino do trabalho. Em Minas, Anastasia é o braço direito do governador Aécio Neves desde o primeiro dia do seu primeiro mandato. Em 2006, foi eleito (vejam, eleito) vice-governador. O carro-chefe do PSDB em Minas, o choque de gestão, foi implementado e comandado pelo Anastasia. Seu nome foi escolhido de maneira unânime como candidato do PSDB ao governo do estado, tanto entre os tucanos de Minas quanto entre os muitos aliados. Sem brigas, sem desconfianças.

Realmente, as semelhanças chegam ao fim bem no começo da comparação.

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domingo, 18 de abril de 2010

Dilma e sua dificuldade com as mulheres...

Ela já pediu de todo jeito. Falando diretamente a seus interlocutores, como nesta semana em Porto Alegre ("Vou ter milhões de brasileiros nessa caminhada que agora têm luz iluminando suas casas, vamos ver mulheres que vão mostrar seus refrigeradores, seus fogões..."), ou no mês passado, em outro discurso ("Hoje, somos 52% da população e os outros 48% são nossos filhos").

Já tentou também através de aliados, como na fala recente do Mercadante ("Temos duas mulheres muito competentes na disputa presidencial - Dilma e Marina Silva (PV). A Dilma acompanhou o presidente em todos os projetos importantes ...") ou mesmo através de seu chefe, aquele que lhe faz sombra, o presidente Lula ("Para as mulheres não basta apenas ser a maioria numérica deste país. As mulheres querem ocupar mais espaço, participar da política...").

Mas o fato é que está difícil. O último Datafolha, do dia 17 de abril de 2010, confirma que Dilma permaneceu estável entre as mulheres, com 22% dos votos, enquanto Serra voltou a crescer e alcançou 38% entre elas.

Enquanto o PT, seus aliados e a candidata Dilma continuarem apelando, seguirão perdendo votos das mulheres. Isso por uma razão muito simples. Não se vota em uma candidata mulher apenas por ela ser do sexo feminino. Pelo contrário, é preciso esquecer esse detalhe e comparar competências. Pedir o voto das mulheres apenas por aquele motivo é rebaixá-las à constrangedora situação de inferiores, o que não são.

A maior conquista das mulheres no chamado movimento feminista foi o direito de serem vistas como iguais, e elas continuam, em sua grande maioria, querendo ser tratadas justamente assim. Como iguais. Não como melhores. Quando Dilma diz que "nós, mulheres, somos a maioria e podemos escolher quem governará esse país" não está tratando as brasileiras como iguais. O feminismo, quando cruza a linha da razão, perde o sentido e tropeça em si mesmo.


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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O discurso tucano deve mudar em 2010...


2010 está aí. A eleição presidencial está aí. Daqui a 10 meses, os brasileiros estarão novamente nas urnas para escolher aquele - ou aquela - que presidirá o país pelos 4 anos seguintes. Na disputa anunciada, Serra (PSDB) e Dilma (PT) já preparam as suas artilharias. A chance deles se enfrentarem é muito, muito grande. Assim como em eleições anteriores, os partidos satélites já se ajeitam para polarizar a disputa entre tucanos e petistas.

Na última eleição presidencial, em 2006, quando Lula enfrentou Geraldo Alckmin, o foco dos tucanos foi partir para o confronto direto. Criticando "tudo isso que aí está", e tentando levantar ainda a bandeira da criação do Real e a da vitória contra a inflação, em 1994, o PSDB tropeçou. A bandeira era verdadeira, mas estava velha e desgastada. E o "tudo isso que aí está" estava bom na opinião daqueles que, ao final das contas, decidem toda eleição: os eleitores. Lula já contava àquela altura com boa aprovação popular, e esta falha de discurso - somada à falta de união partidária - levou o PSDB a mais uma derrota.

Mas é com os erros que se aprende, afinal. O PSDB parece estar muito mais unido agora em 2010 do que estava em 2006. Aécio Neves, mesmo aparentemente magoado por não ter conseguido seguir na disputa interna com seu colega José Serra, tem se comportado como um homem de partido. Mais que isso, o governador mineiro parece estar em grande sintonia com o paulista, e apesar de negar que possa compor uma chapa com Serra na posição de vice-presidente (não poderíamos esperar outro comportamento dele a esta altura, claro), essa possibilidade ainda está de pé para alguns, inclusive para mim.

Com o erro da desunião aparentemente contornado, os olhos tucanos passam a se voltar para o outro grande deslize de 2006. O erro no discurso. Se naquele ano o PSDB partiu para o confronto direto, para a troca aberta de golpes, para o discurso anti-Lula, em 2010 o foco deve ser outro. Lula não está mais na cédula eletrônica, e isso deve ser lembrado sempre pelos tucanos. O confronto agora é Serra x Dilma, e não Serra x Lula. O discurso não pode ser o do rompimento, como em 2006. O povo está feliz, novamente, com "tudo isso que aí está". O discurso é o de melhorias. Críticas podem ser feitas, mas elogios aos programas que deram certo devem estar presentes nas falas de Serra. Eles, os elogios a Lula, aproximarão José Serra do eleitor médio, que não é politizado, e dos lulistas menos convictos - que são muitos, se considerarmos que boa parte dos 70% que aprovam o governo Lula dão conceito "bom", mas não "ótimo", ao presidente. De quebra, ajudarão a desfazer aquela que será a maior arma dos petistas: a tentativa de reforçar a imagem de Serra como um anti-Lula, como alguém que vai acabar com todos os planos bem sucedidos do atual governo. Essa transmissão de confiança é fundamental, e se dá aos poucos, sem palavras inflamadas ou discursos magnânimos. É um trabalho de formiguinha, feito no dia a dia.

Em suma, o PSDB tem tudo para voltar ao poder, e melhorar ainda mais a vida dos brasileiros. Tem um candidato forte, José Serra, que lidera todas as pesquias de opinião com ampla margem de vantagem, e governa com sucesso e boa aprovação o maior colégio eleitoral do país. Tem ainda um importante cabo eleitoral, Aécio Neves, que é jovem, ousado, com grande poder de influência entre os jovens, que goza de estupendo prestígio no segundo colégio eleitoral do país, e que não bastasse isso, ainda rouba votos de Dilma por sua proximidade com os governistas e por sua grande habilidade política. Se não errar no alvo, a chance de nova derrota para os tucanos diminui consideravelmente. Torna-se mínima, ao meu ver.

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