terça-feira, 21 de abril de 2009

Lula x FHC? Que nada... Lula e FHC


Vendo os últimos números da economia brasileira, com recordes positivos sendo batidos a todo instante, algum desavisado poderia afirmar que o governo Lula é o melhor governo que este país já teve. Afinal, nunca tivemos reservas tão grandes, inflação tão baixa, valores tão altos de investimentos externos, e etcéteras. Mas alto lá! Essa análise não pode ser tão simplista. A metáfora a seguir, dividida em três fases, tenta mostrar aos apressados de plantão (ingênuos ou não) que a coisa não é bem assim...


Fase 1. Imaginemos uma média empresa, dessas comuns que se tem a cada esquina. Pela má administração de suas diretorias anteriores, esta empresa deve horrores a fornecedores e ao governo, não tem controle sobre seus produtos, tem excessivo número de funcionários (aos quais paga sempre com atraso) e não presta conta de seus balanços. Uma péssima empresa, sem dúvida, a um passo da falência. Poucos no mercado apostariam nela. Suas vendas, todas para o mercado interno, atualmente estão na casa de R$500 mil / mês, mas seus custos são de R$650 mil / mês. Prejuízo certo.


Fase 2. Então a administração desta empresa é trocada. A nova diretoria assume apresentando metas de reestruturação ousadas. Diferentemente de vezes anteriores, a seriedade da nova equipe é evidente. Um bom plano de demissão voluntária é apresentado, e boa parte do pessoal excedente é dispensado. Gastos desnecessários são cortados, dívidas com fornecedores e com o governo são renegociadas e uma criteriosa análise de produtos é feita, eliminando aqueles que não dão lucro. Essas boas atitudes dão credibilidade à empresa, que passa a ter acesso à linhas de crédito em boas condições, algo impossível anteriormente. O mercado já a vê com outros olhos, e então a empresa começa a exportar com mais vigor, visto que agora organizações internacionais já recomendam seus produtos. O faturamento cresce vertiginosamente, e atinge a casa de R$1,5 milhão mês, com custos na ordem de R$850 mil / mês. Depois de tanto, tanto tempo, esta é uma empresa lucrativa!


Fase 3. Mas então chega um momento crítico. A diretoria que fez as mudanças estruturais que o mercado tanto esperava será trocada. Desconfiados, fornecedores dão alguns passos para trás. Afinal, a nova diretoria pode vir com propostas ruins, que descontinuem o bom trabalho que vinha sendo feito. Depois de um período de apreensão do mercado, a nova diretoria se mostra competente. Mantém a bem sucedida política anterior, e aperta ainda mais algumas políticas de ajuste. Os gastos sobem, mas os investimentos também. O resultado disso não poderia ser outro: a empresa goza de mais credibilidade, tem acesso a linhas de crédito com juros ainda mais baixos e exporta cada dia mais e mais. O bom trabalho traz frutos, e as vendas atingem 2,5 milhões / mês, com gastos de R$1,2 milhão.



Resultado: a empresa está melhor hoje, e isso é fato. Os números da fase 3 são superiores aos da fase 2. Mas como esta empresa poderia saltar da fase 1 para a fase 3? Impossível, claro. A boa atuação na fase 3 dependia diretamente dos ajustes feitos na fase 2.

Na analogia, fica claro que estamos falando do período após a redemocratização (de 1985 até 1993) na fase 1, momento de grande bagunça política e econômica no Brasil. Experimentamos inúmeros planos, cada qual com sua moeda. Nada funcionou. Medidas heterodoxas como congelamento de preços e bloqueio de poupanças, apesar de válidas naquele instante, se mostraram frágeis com o tempo. A fase 2, de 1993 até 2001, retrata a "era FHC". A reestruturação - com controle inflacionário e criação do Real - marcou o período. Era o momento da faxina, depois de tanto tempo de descaso e erros. O fim da inflação promoveu a maior distribuição de renda já vista na história do Brasil. O país saiu fortalecido, e ao fim do período, já era visto com respeito pela comunidade internacional. E então chega a "era Lula", descrita na fase 3. O controle inflacionário é aprimorado. A distribuição de renda e as exportações aumentam. A manutenção do tripé de sustentação (controle da inflação por metas, superávit primário e câmbio flutuante) da bem sucedida política econômica anterior foram fundamentais para os recordes econômicos serem quebrados no atual governo. O polêmico bolsa-família esquenta o mercado interno, impulsionando as indústrias nacionais.

Claro que esta é uma análise macroeconômica. Se colocarmos uma lupa sobre a questão, muitas críticas poderão ser feitas. Algumas de ordem ideológica, o que pode inclusive comprometer o futuro do país. Mas isso é papo pra outra hora...



Resumo: Lula não teria conseguido o que conseguiu se não fosse FHC. E isso não tira os seus méritos, pois o Brasil poderia ter caminhado para trás caso o petista não mantivesse o trem no trilho. Mérito do primeiro, mérito do segundo. O Brasil cresceu muito nos últimos 15 anos. E por isso todos os economistas mundiais são unânimes ao dizer, hoje, que o Brasil não é mais o país do futuro. É o país do presente.
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Um comentário:

  1. Concordo em parte com sua análise, acho que a parte dois aconteceu de forma diferente...! Demissão voluntária...privatização...acho que a fase dois foi uma apoteose neoliberal.

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